segunda-feira, 16 de julho de 2007

Retrocesso


"Retrocesso Civilizacional

São talvez as prioridades dos nossos tempos que acarretam um retrocesso e uma eventual depreciação da vida contemplativa. Mas há que confessar que a nossa época é pobre em grandes moralistas, que Pascal, Epicteto, Séneca, Plutarco pouco são lidos ainda, que o trabalho e o esforço - outrora, no séquito da grande deusa Saúde - parecem, por vezes, grassar como uma doença. Porque faltam tempo para pensar e sossego no pensar, já não se examina as opiniões diferentes: a gente contenta-se em odiá-las. Dada a enorme aceleração da vida, o espírito e o olhar são acostumados a ver e a julgar parcial ou erradamente, e toda a gente se assemelha aos viajantes que ficam a conhecer um país e um povo, vendo-os do caminho-de-ferro.
Uma atitude independente e cautelosa em matéria de conhecimento é menosprezada quase como uma espécie de tolice, o espírito livre é difamado, nomeadamente, por eruditos que, na sua arte de observar as coisas, sentem a falta da minúcia e do zelo de formigas que lhes são próprios, e bem gostariam de bani-lo para um canto isolado da ciência: quando ele tem a missão, completamente diferente e superior, de comandar, a partir de uma posição solitária, toda a hoste dos homens da ciência e da erudição, e de lhes mostrar os caminhos e os objectivos da cultura. Uma lamentação, como a que acaba de ser cantada, terá provavelmente a sua época e calar-se-á por si própria, um dia, quando se der o regresso em força do génio da meditação." (Friedrich Nietzsche, in 'Humano, Demasiado Humano')

Esse texto continua atual, a história não mudou e parece só piorar. Com a globalização, a Internet, estamos perdendo o hábito de ler, de contemplar, de refletir, de filosofar. Não há mais tempo para essas coisas, na verdade não há nem tempo para nós mesmo.
É um verdadeiro retrocesso. E onde vamos parar? Na verdade já paramos, estamos regredindo.
Mas nunca é tarde para mudar e fazer o que certo. Vamos contemplar a vida, pensar a vida, e não apenas vivê-la, vamos fazer uso de nossa liberdade e daquilo que mais nos distingui dos outros animais, a razão.

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